quinta-feira, 28 de junho de 2012

Aquele era um olhar diferente...


Aquele era um olhar diferente... Meus olhos marevajam lágrimas de humilhação, remorso, vergonha. Não conseguia olhar nos olhos dos que me acusavam, não conseguia olhar nos olhos de minha própria alma. Não conseguia encarar o meu interior.

Arrastada e empurrada de um lado a outro todas as vozes se confundiam dentro de mim, fazia-me ir aos fundos abismos das imagens que adquiri e aceitei no decorrer da vida: adultera, pecadora, prostituta!

Eu era aquela pecadora caída! Machucada por fora, mas de alma ainda mais ferida. Vista pelos homens pela sociedade por mim mesma como uma excluída, como alguém que não merece compreensão.

Estava lá no chão: caída, cuspida, molestada e assustada. Na alma já sentia o peso e a ferida da morte certa, das pedras que uma a uma me tirariam a vida. Das vozes autoritárias que zuíam e clamavam minha sentença.
Não conseguia distinguir mais o que diziam, até reconhecia algumas vozes das quais um dia também em outros tons sussurraram em meus ouvidos, mas a humilhação era tanta que nada mais eu compreendia. Eu não podia ouvir mais nada, pois eu mesma me dizia: Culpada! Culpada!

Jogada com força naquele chão eu sei que me colocaram diante de um homem. Minha face na queda se encontrou com a areia áspera e quente o deserto, e de cabeça baixa assim preferi ficar esperando pelo momento onde a primeira pedra anunciaria o início de minha suposta liberdade, o início do fim daqueles sofrimentos de toda uma vida. O marco inicial de que aquelas seriam as ultimas lagrimas de um corpo e um coração cansado de chorar.

Mas de repente fez-se um silêncio. As vozes e acusações pararam. Era como se fosse o silêncio da manhã de um novo dia. Minha face ainda estava por terra. Não tinha coragem de me levantar!

Ouvi então um barulho de pedra cair ao chão, e entre angustia e medo, apertei os olhos, as mãos sobre a areia e esperei que viesse a primeira pedra me acertar. Outro barulho de pedra, e outro, e outro... passos se distanciavam de mim. O que será que está acontecendo?

Levantei um pouco a cabeça e com os cabelos ainda sobre a face vi meus algozes se dispersarem.

De repente uma voz se dirige a mim, devolvendo-me a dignidade do que sou.

- Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?

- Ninguém, Senhor. – Respondi ainda envergonhada e cabeça baixa e com medo de encarar.

Mas a altura de meus olhos marejados (que somente aceitavam olhar um pouco acima, até a cintura deste homem de voz doce e compassiva), pude ver uma mão estendida.

Quem é este homem que primeiro me chama de mulher, que devolve a mim o título de dignidade que me foi tirado pela vida, por mim mesma? Quem é este homem que aceita tocar em uma pecadora, que não teme as represarias por estender a mão a uma adultera?

Olho por uns instantes aquela mão e enfim tomo coragem e encontro aquele olhar...
Ah! Aquele olhar!

Aquele então era um olhar diferente. Em toda minha vida nunca havia encontrando um olhar que me enxergasse por dentro, que não olhasse minha aparência, meu passado. Aquele olhar me trouxe ao meu momento presente! Até o flagrante de meu crime ficou no passado!

Aquele olhar chegou onde estava minha solidão, minha amargura e ferida. Iluminou as partes escuras e dissipou as trevas que haviam em mim.

Ainda trêmula estendi também minhas mãos, seduzida por aquele olhar fui recriada naquele pequeno instante em que meus olhos se deixaram ser olhada por esse tal Nazareno. Só podia ser Ele, já havia ouvido falar Nele, de seus milagres e do poder de suas palavras. Sim só poderia ser Ele.

Quando minha mão tocou a sua pude sentir toda a sua pureza. Jamais havia sido tocada por um homem assim. Aquele olhar curou a ferida da minha alma e aquele toque curou a minha carne, arrancou a lepra do meu pecado.

Ajudando-me a me levantar ouvi novamente sua voz.

- Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar.

Ter uma segunda chance, ter a oportunidade de recomeçar... mas tudo isso só foi possível porque eu pude me encontrar com Aquele Olhar.

Esse é um trecho baseando no texto do Evangelho de João, 8, 1-11. de um projeto do meu livro: Narro o que vi de Jesus
Este livro contem passagens biblicas e dos Santos, onde os personagens narram o que sentiram em seu encontro com Jesus. Essas narrações partem de minha cabeça, como em minhas orações e imaginação acredito que tenha sido. Não corresponde a visualizações misticas do que realmente ou exegeticamente aconteceu.
Rezem por mim para que consiga os objetivos de Deus quando me pediu para escrever isso. Está no forno de forma bem lenta pois as inpirações passam por oração, pela arte e depois pela escrita. Não necessáriamente nesta mesma ordem... mas de forma bem lenta.