terça-feira, 2 de agosto de 2016

O Leãozinho e a estrela psique

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Aquela parecia mais uma noite comum nas Savanas de Tempus Temporis...
Leãozinho, conhecido como o Grande filho da Vocação lambia suas patas e ajeitava sua pequena juba, com o pensamento distante e olhos fitos no céu contemplava o firmamento. As estrelas pareciam cintilar e dançar sobre o escuro do céu, no canto superior direito (segundo o olhar de Leãozinho) a Lua tímida e preguiçosa tomava o aspecto de crescente.
Toda a natureza parecia dormir, uma pequena brisa acariciava as folhas que respondiam às carícias com um suave sacolejar em forma de música e a mesma brisa espalhava o perfume parecido como de Eucalipto por todo o vale.


O lugar que leãozinho gostava de contemplar a noite era privilegiado. Em uma parte acidentada das savanas formava-se quase que um precipício, uma árvore anciã na beira do penhasco lhe servia de apoio para as costas. Lá abaixo o vale todo silencioso se sentia guardado pela pequena Alteza que todas as noites subiam o penhasco e contemplando as estrelas vigiava a natureza.
A altitude também favorecia o clima daquela noite, trazia com frescor a brisa perfumada de Eucalipto e afastava os mosquitos que gostava mais de se aproximar da relva molhada pelo sereno e dos pequenos lagos que estavam na planície do vale.
Que cenário de paz e contemplação! Que cenário comum para um amante do firmamento, da calma e dos mistérios insondáveis que rodeiam céus e terra.
Mas aquela noite era diferente...
- Olha só no céu, a estrela brilhante, companheira de posição da irmã lua nas noites de verão está se movimentando! Será ela uma estrela cadente? O que acontece com a estrelinha? - Diz a si mesmo Leãozinho.
E como que acreditando que pudesse ser ouvido grita:
- Estrela, Estrela aonde vai? Porque se põe a caminhar? Tu és Estrela Guia, coitado dos navegantes de auto mar que em ti se deixam guiar; dos perdidos na floresta que lhe tomam como bússola e sabem que se no extremo oeste do poente tu estiveres é só lhe deixar nas costas que o oriente encontrará!
A Estrela pára de caminhar! Para a admiração de Leãozinho, ou por se saber ouvido ou pela coincidência de sua súplica ter sido atendida pelo ocaso.
- Foi ouvido sim pequeno Leãozinho. Pode continuar a suplicar. – Diz uma voz oculta, suave e misteriosa.


- RRRRRRUUUUUUUUUUUAAAAAAAAAAAAAUUUUUU - Quem fala? – Diz Leãozinho, assustado e de pequena juba arrepiada. – É você pequena estrelinha? Sinto sua voz tão perto como se saísse de dentro de mim!
- Não sou a Estrelinha. Sou uma amiga.
- Que amiga? De onde me conhece? De onde vem e porque está aqui?
- Eu venho de um tempo distante deste aqui, de uma terra diferente dessa aqui, de um portal que passa por dentro do mais oculto de ti. Sou a voz amiga que lhe aconselha, o tom imperial que dá a vida aos rebentos, espalha o orvalho nas relvas e que dá o primeiro sopro para que a brisa possa dançar no ar. Toda noite sento ao seu lado e sem trocarmos palavras conversamos sobre o firmamento, sobre a vida e o que virá.
- Oh! Estás sempre comigo e eu nunca te percebi? Posso te olhar? – Diz animado e curioso o Leãozinho.
- Não precisas me olhar. Sou também mistério! Tenho muitas faces e para ti unicamente me apresento de uma forma especial, escolhida. Essa face você precisa resplandecer, você precisa viver, deixar emanar de dentro de ti, assim com certeza me veras.
- E como poderei viver, resplandecer se não sei como é? Deixe-me te ver?
- Estas me vendo pequeno filho! Sou sensível, use seus sentidos. Não sou apenas visão, se me ver não apurará seu tato, não sentirá o meu perfume, não saberá quão especial é o meu gosto, não aprenderá minha canção!
Leãozinho fecha os olhos, respira fundo... Um silêncio profundo envolve o vale, toda a savana emudece. Uma paz brota de seu coração e uma presença lhe preenche toda a alma. Então a voz misteriosa continua:
- Vistes aquela Estrelinha? Seu nome é Psique, na terra dos homens ela é conhecida como Alfa de Centaurum. Ela está em crise. Sua missão está ferida, sua essência escondida. Ela precisa de sua ajuda Leãozinho! De alguém que sabe contar estrelas e não dinheiro, de alguém que saiba contemplar!
- E o que posso fazer para ajudar a estrelinha? De onde vem sua crise? Porque se perturba em sua missão? Diz-me suave e linda voz, me mostre o caminho inicial dessa minha missão?
- Ela te ouviu Leãozinho, de uma forma ou de outra ao contemplá-la todas as noites você virou um pouco do reflexo dela, emanou daquilo que a faz brilhar. O que ela ouviu não foi sua voz. Foi sua essência que falou junto ao seu coração, que trouxe à Estrela Psique a esperança de poder ser vista como ela realmente é. Agora vá, não percas tempo... Todo o firmamento depende do resgate dessa Estrela. Cumpra sua missão, não olhes pra trás e vá...
A voz imperiosa e suave tomou ar de envio ao proclamar suas ultimas palavras até que o “Vá” foi se tornando ecoado e desaparecendo. Leãozinho então gritou:
- Querida voz, quem é você, onde poderei te encontrar? Como posso lhe chamar?
A voz que ainda ecoava em um sussurrante “, , vá...” docilmente como de pé de ouvido diz:
- Estou dentro de ti, antes mesmo que nascestes... Pode me chamar Carisma.
- Carisma!- Exclama Leãozinho meio que enamorado! - Quão doce é sua voz, quão suave seu perfume! Farei tudo que me mandar!
Com este ar de seduzido Leãozinho ficou por um tempo meio bobo, com um sorriso meio de canto, com um olhar voltado para dentro de si, perdido no espaço como quem olha para o “nada”.


- Ei? Ei? Leãzinho acorda? Não perca tempo! – Ressoou uma voz tripla meio de gralha.
- Carisma? Não! Não é a doce voz de Carisma! Quem fala?
- Olhe para o Céu, somos nós três aqui.
- Onde?
- Aqui no céu! Alnilan, Alnitaka e Mintaká. As três Marias, as estrelinhas que você tanto gosta comparar.
Alnilan, Alnitaka e Mintaká eram as esquadrãs guardiãs do universo, conhecidas com filhas de Maria. Passaram longo tempo sobre o mistério e ensinamentos de uma Virgem muito conhecida sobre a terra. Agora essa Virgem mora no céu e se tornou Rainha, imperatriz de todos os mundos. Em seu ventre formou sob os moldes de seu único Filho muitas outras Marias que espalhadas pelo firmamento formam esquadrões, cada qual com uma missão, prontas a qualquer ordem da Grande e Terna Mãe.
As esquadrãs sabiam da gravidade do problema que enfrentava o Universo, do tamanho da missão de Leãozinho e atentas a todos os detalhes do mundo ouviram a conversa de Leãozinho com a Linda Voz de muitas faces, que se manifestou a ele na forma da Carisma. Então nem esperou serem chamadas e logo se apresentaram a Leãozinho.
Ele por sua vez ainda meio “abobado” e sem entender o que o esperava nem se assustou por falar com estrelas.
- As três Marias! Oi meninas. Perder tempo no quê?
- Ora Leãozinho, a Estrela Psique precisa de você. Vamos temos como te levar até ela. Corra, estenda suas mãos ao alto, feche os olhos e da ponta do penhasco pule o mais alto que puder.
E não é que Leãozinho nem pestanejou! Nem se preocupou se cairia vale abaixo, ou se pôs a pensar que estava variando por falar com estrelas e obedecê-la. Na verdade a voz doce e suave de Carisma ainda estava tão presente em seus sentidos que ele inebriado deste amor nada duvidou ou temeu.
Ao abrir os olhos Leãozinho se viu no meio do espaço, em uma mistura de vazio (pela falta de gravidade) com a imensidão do universo. Tudo era escuro, parecia se passar diante de seus olhos como fleches de estrelas, tudo o que ele viveu, vive e viverá desde a eternidade. De longe avistou uma bela luz, não era luz própria como dizem ser as estrelas, percebia-se nitidamente ser uma luz envolvida. Apertando o olhar e usando talvez da união de todos os seus sentidos, ou o que chamariam os homens de sexto sentido, enxergou que aquela luz era a Estrela Psique.
Aproximou-se um pouco mais. A cada passo a luz o envolvia e o núcleo tomava uma forma, um contorno.
- Nossa! Se parece com um humano, tem forma de uma criança! – Exclamou admirado Leãozinho.
Psique se encontrava fraca, com braços enrolados sobre seus joelhos, cabeça baixa, olhos tristes e desiludidos. Viu um pouco a distante Leãozinho, que espantado tinha parado de dar passos. Seus olhos se encontraram com o dele, e sem dizer nenhuma palavra disse tudo. Disse-lhe me ajude, estou a padecer.


- Quem é você bela criança? – Disse Leãozinho - Porque está triste e abatida?
Uma voz melosa, fraca e infantil saiu da pequena criança, quase que sussurrada e sem forças:
- Eu sou a Estrela Psique. Sou a alma da humanidade. Fui criada pelo Grande Imperador para ser sinal de vida e missão a todos os povos. Estou definhando, preciso de ajuda... Preciso que mostre a todos que não vivo só... Que alma não vive sem....
A voz de psique não saiu mais, abaixou a cabeça sobre os joelhos e adormeceu. Adormeceu o sono da espera, único meio de permanecer ainda viva sem que todas suas forças se esgotem, até que Leãzinho descubra o enigma que a faça se salvar.
Para desespero de Leãozinho a última palavra não saiu. Mostre a todos que a alma não vive sem...? O que será que alma não vive sem? Como descobrir e assim mostrar a todos o que está junto com a alma humana?
Em um piscar de olhos, como quem acorda de um sonho estava Leãozinho novamente na Savana de Tempus Temporis, sobre a ponta do penhasco que avista todo o vale.
-Será que tive um sonho?- Perguntou-se Leãozinho - Ao perguntar olhou para o canto oeste do poente, onde a lua já estava quase atravessando o horizonte e pôde constatar com seus próprios olhos que não havia sonhado. Alfa de Centaurum, ou melhor, Psique, a segunda estrela mais brilhante dos homens havia se deslocado, sua luz soltava fleches como que piscando, como que indicando que estava a perecer... E agora o que fazer? Desesperado exclamou:
- Carisma! Carisma linda Face Oculta que me habita. Presente recebido na eternidade, força que emana de toda a minha sensibilidade, me ajude, o que tenho a fazer?
Em um silêncio profundo pôde-se ouvir sapos a coaxar no vale e o ronco de uma coruja. Depois disso, silêncio, silêncio e silêncio. Em contemplação e sem perder a fé em tudo o que viveu não se abateu pelo silêncio e sentimento de preces não atendidas. Leãozinho se lembrou de que carisma dissera estar sempre com ele, dentro dele. Pôs-se em contemplação e a meditar em cada detalhe, em tudo o que viveu.
E dizia para si: - A estrela Psique disse ser a alma dos homens. A resposta deve estar no mundo dos homens, no entre ser alma e ser homem!
- Ei alguém aí do céu! – Gritou leãozinho! – Alguém pode me dizer o que vêem os homens quando olham para o céu? Alguém pode responder ao meu clamor? Algum Cavaleiro dos santos, alguma filha da Imperatriz Maria? Ei!!! Alguém do esquadrão guardião!
- Não precisa gritar. Não somos surdas.
- Quem? Quem responde ao meu clamor?
- Ora quem? Ainda não aprendestes que a resposta e o auxílio nas angustias sempre vem pela Imperatriz Maria? Somos nós as filhas dela, as Três Marias!
- Oh! Minhas amiguinhas perdoem-me. Até o cair da tarde deste dia eu era apenas um pequeno Leãozinho que se fazia sentinela das coisas da terra, enquanto vigiava o vale e sem precisar bracejar por conta de tanta calmaria. E nesta noite me deparei com o caos de uma estrela se deslocar, quase virar cadente e sumir; tive um encontro com a Linda e Bela face de todas as Faces; viajei no tempo e no espaço e conheci a angustia da alma humana que padece e me pede ajuda. E estou agora sem saber o que fazer, onde correr e por onde começar a procurar.

- Acalme-se Leãozinho, quem a ti como presente se manifestou, por ti a todos se manifestará! Continue caminhando, pergunta por pergunta, dia por dia... Mas sem tempo a perder, sem olhar pra trás ou pestanejar! Mas confie, já dizia uma estrela que hoje brilha no além do céu: Tudo concorre para o bem daqueles que amam! Não serás tu que farás! Ela, a Face Carisma tudo fará! Mas é claro, se você for obediente, se você se deixar guiar.
E continuou ainda uma das Marias, acho que a Mintaká:
- iiiiiii! É difícil responder a sua pergunta em? Os homens da terra não têm costume de olhar as estrelas, eles não têm tempo para isso. Nunca se sabe ao certo o que eles enxergam quando olham para o céu!
- Ah! – Disse Alnilan. – Mas sei que existem pessoas que estudam o céu. Foram eles que deram esses nomes diferentes e estranhos para nós. Eu por exemplo antes de ser conhecida pelos homens e pela terra como Alnilan ou parte da constelação do gigante Oriun, o grande caçador, sou conhecida no céu como Ordem da Memória. Mintaká é a Armazém de Sonhos e a Alnitaka Fonte da Cortesia.
- Mas Então, - continuou Alnilan - eles estudam as estrelas, e somente esses estudiosos e alguns poucos quando crianças costumam olhar estrelas. Os estudiosos são os astrônomos, eles usam um instrumento chamado telescópio. Podemos descobrir o que eles enxergam ao olhar para a Psique.
- Como faremos isso? Não conheço nenhum astrônomo? – interrogou desapontado Leãozinho.
- Ora Leãozinho! Não tendes fé em quem te inspirou? Em quem te chamou e te capacitou? – disse Alnitaka meio que indignada por achar tudo muito simples pelo seu olhar inteligente e tudo muito complicado aos olhos da terra. Continuou:
- Na terra tenho uma amiguinha, uma menininha que ganhou um telescópio, seu nome é Bonina. Seu quarto é cheio de adesivos de estrelas e quando apaga a luz para dormir pode olhar as estrelas artificiais que formam constelações em sua parede e seu teto. Mas, além disso, todas as noites ela se aponta na janela, quando não sobe o telhado e de lá fica nos olhando. Vou conversar com ela e já te conto.
Alnitaka foi ter com Bonina, ficaram horas de gargalhadas e partilha, como amigas intimas. Que pena que Leãozinho ainda não tinha todos os sentidos apurados para que pudesse ouvir a conversa das duas. Seria uma diversão só. E quem sabe ele se distraísse e se alegrasse um pouco. Mas enfim, quase que puxada à força, Alnitaka deixa a conversa com Bonina, precisou que Mintaká disponibilizasse alguns sonhos para que Bonina sentisse logo muito sono e deixasse de conversar para poder sonhar.


- Diga-me Alnitaka! O que contou sua amiguinha? – Perguntou Leãozinho.
- Ah! Ela me contou tanta coisa, disse que certa vez brincou de colher comendo doçuras do céu com a constelação de Hidra, que já voou puxando o rabo do Escorpião, já assistiu uma missa por trás de Altair e fez orações no Cruzeiro do Sul.
- Alnitaka, pergunto o que ela falou sobre a Psique!!!!! – Disse Leãozinho já desanimado e irritado.
- Acalme amiguinho – Reforçou Alnitaka – Ela disse que de seu telescópio quando olha para a Alfa de Centaurum, que é como conhecem a Psique, eles conseguem ver outra estrelinha que brilha por de trás dela, as duas giram uma em orbita da outra e juntas formam o grande brilho de Psique. O incomum é que é preciso olhos apurados para enxergar isso, a olho nu vemos apenas uma única e solitária estrela. Mas ela, por exemplo, sabe que são duas então sempre que vê o brilho de uma sabe que é a soma das duas.
- Duas estrelas? Uma atrás da outra? Mas quando estive com Psique não vi nenhuma outra!!
Aquela noite passou tão rápida para tantos momentos emocionantes; e tão demorada por ter dado tempo de viverem tantas coisas jamais vividas. As três Marias se despediram do Leãozinho e deram espaço para a grande Estrela Dalva, a Aurora da Manhã, a grande estandarte da Imperatriz do Céu que brilhando no amanhecer prepara e anuncia com resplendor o nascer do Imperador Sol.
Leaozinho ficou inquieto. Sua angustia foi tanta que o nascer do Imperador Sol nem lhe chamou atenção. Coisa muito rara, porque Leãozinho gostava muito do nascer do Sol. À noite o brilho das estrelas e na manhã o nascer do Sol, essa era toda a alegria dele e apenas depois disso ia dormir.
Na verdade o nascer do Imperador Sol na Savana de Tempus Temporis era um espetáculo de botar inveja na Broadway! Pouco a pouco no definhar da noite as estrelas iam diminuindo o seu brilho e desaparecendo, mas ela, a grande Estrela Dalva não! Ao contrário, quanto mais às outras se apagavam e o Imperador chegava perto do Oriente mais ela se tornava brilhante, radiante... Na calmaria do céu, cruzado a todo tempo pelas aves que despertas dançavam no firmamento, a Grande Estrela Dalva se tornava Estrela Guia, Estrela de Belém!
Seu brilho era tão doce, tão singelo, servia apenas como farol... Não iluminava todo o firmamento com ardor de imposição, era apenas Aurora, mas única, singular! Sinal de que coisa boa vem por aí.
Sabe quando agente entra na casa da Vovó e sente um cheiro que já vem lá da rua de pão de queijo tirado do forno, ou de bala de coco que acabou de ser puxada? Então, esse cheiro logo nos dá a certeza de que lá na cozinha terá uma fornada quentinha de pão de queijo ou um monte de balas ainda “puxentas” esperando para açucarar. Não é assim?
É assim também com a Aurora da Manhã! Sua presença trás tanta paz que logo já imaginamos que esplendor nos restará. Como uma mulher em parto, logo que os primeiros raios de Sol se apontam e dardeja sobre a relva, a Estrela Dalva vai cedendo seu lugar, raio por raio perdendo o seu brilho... E como o Filho Nascente é a única alegria da Mãe e toma conta de todo o lar, assim também o firmamento é todo consumido pela Impetuosa e Grande Luz!
A terra vai acordando, as flores sacolejam o orvalho depositado pela noite, os animais se espreguiçam e os pássaros junto com as aves dançantes formam uma grande orquestra que dizem: - Bom Dia! Por Misericórdia, o Sol Nascente veio nos despertar! Temos mais um dia para viver e amar!
Como já dizia um poeta, quando o sol nasce ele faz um espetáculo deslumbrante, porém a maioria das pessoas estão dormindo!
Leãozinho não estava dormindo, mas seus olhos se fixaram tanto em sua limitação, em sua pequenez que não pôde naquela manhã se alimentar da única coisa que poderia acalmar seu coração e mostrar o rumo certo de sua missão.
O pobre do Leãozinho ainda não tinha entendido que dele era preciso apenas o despojamento. Que toda a obra, todo o resto, não era ele que faria! Por isso se abateu.
Foi um dia difícil. Naquele dia ele não conversou com seus amigos, não brincou de se coçar na grama com os cachorrinhos e nem tomou banho brincando de chuvinha com a tromba do elefante. Toda a Graça que foi vivida por Leãozinho ficou bloqueada, seus olhos olhavam apenas sua impotência, sua pequenez... Esqueceu-se da força que havia dentro de si. Esqueceu-se que a Bela e Linda voz Carisma prometeu ser seu auxílio, sua fortaleza.
O Sol que já atravessa na linha de sua cabeça ardia com fulgor, soltava o vapor das águas dos lagos e dava um ar de “preguicinha” à natura. Como era próprio dos cuidados do Imperador Sol, o vapor dos lagos começavam a formar nuvens de algodão no céu; primeiro para deleite dos filhotes que deitados sobre a relva brincavam de adivinhar e formar coisas pelas nuvens, e depois pela chuva que certeira cairia, trazendo frescor e fecundidade ao vale.
Pobre Leãozinho não enxergava nada disso, olhava para o céu e seus olhos enxergavam apenas as densas e escuras nuvens que tapavam o sol e trazia um ar de tristeza, fixou-se no escuro das nuvens e não percebeu nem o arco-íris que se formou logo que a terra foi regada pelas águas da benção de Deus. Já desesperançado e cansado chegou à tarde daquele dia e dormiu seu sono matinal.
Lá onde o tempo se esconde e onde vivem as coisas mais importantes da vida trabalhavam Alnilan, Alnitaka e Mintaká, elas estavam a serviço da Providência e em forma de consolo gostariam de enviar uma mensagem de Carisma para Leãozinho.
Mintaká logo tratou de aproveitar do sono de Leãozinho e botou-lhe na mente um sonho bem longo. Alnilan utilizou de seus dotes para trazer à memória de Leãozinho todas as coisas boas que ele viveu e ajudá-lo no sonho a ordená-las. Como não podia faltar, quem deu um novo adorno e significado a esse “fazer memória” em forma de sonho foi Alnitaka com toda sua fonte de cortesia.
No sonho estava Leãozinho segundo a ordem da Memória ainda contemplava as estrelas, elas ajuntadas em forma de constelação iam uma a uma formando como que uma partitura de música no negro do firmamento. Notas por notas eram desenhadas no céu pelo brilho das estrelas. Agrupadas em compassos, conforme iam tomando seu lugar sobre a pauta, um som celeste como que indicando aos anjos o que fazer era ressoado por todo o universo. A Lua regia a orquestra. As vozes mais lindas e afinadas formavam coros, tinha até cheiro de missa, de solenidade de posse de Rei, de dança medieval em apresentação de princesas e nomeação de Cavaleiros... E não era só cheiro era também um espetáculo para todos os sentidos, porque enquanto as estrelas se agrupavam e entravam em fila para compor a próxima pauta, elas formavam coreografias lindíssimas, com uma mistura de ritmos indescritível, coisa de anjo, de céu. Não dá pra explicar!
Em um determinado momento, quando a emoção era já tão forte que fugia de todo o tempo e de todo o real, começou uma canção orquestrada por anjos em coros, harpas, pianos e clarinadas. A canção parecia dizer mais ou menos assim:
Ave, Regina cælorum, Ave, Domina angelorum, Salve radix, Salve porta...
Ave maris Stella Dei Mater alma Atque semper virgo Felix cæli porta...
Regina cæli, lætare, alleluia! Quia quem meruisti portare, alleluia! Resurrexit sicut dixt, alleluia! Ora pro nobis Deum, alleluia! ...
Salve, Mater misericordiæ, Mater Dei et mater Veniæ, Mater spei et mater gratiæ, Mater plena sanctæ lætitiæ, O Maria!

As estrelas que formavam essa canção ainda ficaram em pauta dando continuidade para que agora o coro dos anjos fosse substituído pelo som dos mais lindos instrumentos. Com os anjos mudos uma visão surpreendente apareceu a Leãozinho.
Nota a nota da canção, o escuro do céu foi se abrindo. Uma luz intensa formou um portal e conforme a música era entonada com força, esse portal mais se abria. Já era o suficiente ver uma grande figura de luz, em sua volta formando um cortejo, vários outros pontos de luz. Leãozinho então exclamou:
- Louvado seja Deus! Rasguem-me os véus, purifique-me a visão e todos os outros sentidos! Que eu enxergue com os olhos do entendimento o esplendor dessa visão!
Pouco a pouco a figura de luz tomou uma aparência esbelta, tinha a forma de um homem. Seus cabelos eram de um castanho amendoado e formavam caracóis abaixo de uma auréola em forma de coroa. Trazia consigo na mão direita, uma espada tão brilhante como diamante, passada pelo ante-braço um escuro desenhado um brasão nobre que grafava: Quem como Deus!
Na outra mão estava um estandarte em forma de cruz, sobre os traços horizontais da cruz passava-se a bandeira em forma de triangulo que dizia: Ut Amor Ametur! Seu peito também tinha uma armadura, e calçava sandálias que subia em fitas por toda a panturrilha.
Os pontos de luz também tomaram forma, e saldando em uma semi genuflexão ao grande Anjo, se apoiavam com espadas e escudos. O grande Anjo passou o estandarte para outro ao seu lado e estendeu a mão a Leãozinho dizendo:
- Vem meu pequeno amigo real!
Os olhos de Leãozinho estavam arregalados com expressão de maravilha e espanto. Com sua voz rouca e infantil perguntou:
- Quem é você?
- Sou Miguel, o Grande protetor do céu, Príncipe da Milícia Celeste. Guarda da Igreja de Deus e defensor dos homens. Venha, não tenha medo, estou incumbido de levá-lo a uma audiência.
Não sei ao certo quantas coisas se passaram na cabeça de leãozinho, porque até mesmo narrar essa história deixa agente meio abobado e maravilhado. Mas leãozinho seguiu a Miguel, eles passavam pelo cortejo dos anjos que pareciam milhares de milhões, e seguiram a um caminho no meio do nada que era formado pelos passos de Miguel.
Caminharam pouco e logo mais o som regido pela estrelas ficou pra trás. O caminho que percorriam parecia ser mesmo no meio do nada e de todos os lados brotavam imagens que iam e viam. Miguel como um guia, ia explicando a Leãozinho tudo que se passava. Foram muitas narrações, desde a criação do mundo até a gloria do Céu, mas esta fica para outra história.
Um pouco adiante da caminhada, ouviram um lamento, vários gemidos e sombras escuras que apareciam e mergulhavam abaixo em um vale escuro projetado sobre o chão. O lugar era assustador e triste, havia sombras e também figuras de todas as espécies, em especial humanos comuns, que pareciam acabrunhados e desgostosos. Desempenhavam cada um seu papel, como se estivessem a trabalhar, cuidar da casa, dos filhos... Mas o semblante era de infelicidade. Leãozinho perguntou a Miguel:
- Que lugar é esse?
- Esse é o lugar que quase você veio parar Leãozinho – disse Miguel.
- Nossa isso é o inferno? Eu viria pra cá? Mas por quê? – Assustado perguntou o leão.
- Não. Esse não é o inferno, mas leva a ele. Esse é o vale do esquecimento. Muitas pessoas antes de ir para o inferno passam por esse vale. Algumas criaturas, em algumas circunstancias, são apenas apresentado ao vale como forma de provação, se conseguem ordenar suas memória e relembrar de todos os prodígios de suas vidas, nem chegam a entrar no vale no esquecimento.
E Miguel continuou ainda a explicar a Leãozinho:
Todo o esquecimento leva ao egoísmo. Muitos se esquecem que foram criados por amor, esquecem do sacrifico de Deus, esquecem da batalha dos anjos. Assim como você Leãozinho, esqueceu-se de todos os benefícios que recebeu com o dom da sua vida, esqueceu-se da grande manifestação da Carisma.
Egoisticamente fixou os olhos no seu umbigo e não deu passos de redenção. O grande problema de toda a criatura é o esquecimento; e com ele a ingratidão.
Diante da prova as criaturas esquecem-se que são chamadas, eleitas e amadas.
Dentro na manifestação da glória elas são corajosas, dispostas e desejosas de enfrentar todos os desafios. Mas isso apenas quando o desejo está na palavra vaga, no prometer sem precisar cumprir. Quando vem a hora de proverem a fé, de serem fiéis não agüentam a primeira batalha, aí... Muitos cavaleiros desistem da investidura, recuam das guerras, arrumam todos os tipos de desculpas para não dar passos, para não mais despojar-se. Esquecem-se dos momentos iniciais fixados na eternidade, deixam esfriar o primeiro amor.
O esquecimento é a ação contrária da Fé, portanto a Esperança não é alimentada.
Sem uma memória de Fé é impossível ter responsabilidade, e sem responsabilidade as criaturas ficam presas no Vale do Esquecimento, sofrendo a dor de não dar passos, de se sentirem infelizes e impotentes. Esperando o dia em que mudarão para outro vale, o vale eterno do sofrimento: o inferno, ou esquecimento de Deus.
A criatura que possui boa memória ao contrário ganhará a posse de Deus. Afinal esse é o objeto de toda sua fé. Terá responsabilidade, e a responsabilidade a levará assumir sua vida como dom; a se sentir responsável em responder o amor de Deus por ela; e a cuidar de todos os irmãos, criaturas como ela, na responsabilidade de amar e levá-los a amar a Deus e a vida.
A criatura responsável é a criatura madura, que atingiu a estatura do Filho – modelo para todo ser criado. É também a criatura que sabe fazer memória e dar sentido a toda sua vida, vivendo-a na Fé e na Esperança, sem egoísmo ou ingratidão.
A essa altura leãozinho não sabia mais se sentia vergonha por sua ingratidão ou coragem de continuar animado pelo anjo. A grande verdade é que eles atravessavam o vale do esquecimento, e esse vale era dominado por demônios da tentação. Para que os olhos de Leãozinho não fossem abertos e mais uma vez ele parasse, só que agora pelo remorso, os demônios o aterrorizavam em sua lembrança ainda não ordenada.
Foi quando Leãozinho constatou que ainda não tinha visto do o esplendor de Miguel. Parado um passo a frente de Leãozinho, Miguel retomou o estandarte e o fincou no caminho que logo se tornou chão de verdade. Com as mãos estendidas para o leão fechou os olhos como em prece. A prece de Miguel suscitou a Leãozinho que gritando exclamou:
- Eu creio! Eu me lembro. Carisma irá me ajudar! Fujam as trevas do meu pensamento e permaneça a grande luz da verdadeira responsabilidade. No final TUDO VALERÁ!
Miguel abre os olhos e nesse momento se alguém duvidava que ele era anjo não mais iria duvidar. De suas costas se abrem duas esplendorosas asas, duas vezes o seu tamanho, com feixes coloridos e harmoniosos de luz. Que solenidade! Imediatamente as sombras que rodeavam os pensamentos de Leãozinho fogem para o vale e ele feliz sorri com um sentimento de verdadeira liberdade.
- agora está pronto Leãozinho! – Exclama também feliz Miguel!
Dão mais alguns passos e chegam neste momento a um lindo castelo, como àqueles medievais.
À porta estão ainda dois anjos, um de cada lado e ambos de asas abertas. O primeiro a ser apresentado foi Rafael: cabelos pretos, uma aureola simples sobre a cabeça, uma túnica azulada até os joelhos, sandálias como as de Miguel, na cintura um cinto de couro com uma pequena bolsa no canto direito. Tirou da bolsa um alabastro com óleo perfumado e passou sobre a fronte de Leãozinho e disse:
- Esse é o óleo Sacramento, receba-o como fonte de cura das enfermidades sofridas e como proteção para as tentações futuras.
Em seguida aproximou Gabriel, carregava nas mãos um livro onde estava escrito: “E o Verbo é Deus”, tinha cabelos cacheados, encaracolados, tez rosada e sorriso amigável, usava uma túnica como a de Rafael, porém de um rosa bem claro, e na mão direita uma corneta de ouro. Fez uma reverencia ao Leãozinho e tomou sua corneta assoprando-a. “Tum-tururum, Tum-tururum”...
A porta do castelo se abriu e coros de anjos entoavam um “Oh, oh, oh , ooooooohhhhh”. Porta a dentro o coro formava um cortejo, um tapete azul imperial cruzava da porta até o interior do castelo e podíamos avistar alguns tronos. Era impossível ter uma visão total do interior do castelo, apenas por alguma permissão Divina sabíamos ser lá fundo alguns tronos.
Os anjos em coro estenderam suas espadas em forma de arco e a mais bela e linda de todas as criaturas parecia ter deixado um dos tronos e seguido em direção ao centro do cortejo, estava passando por baixo do arco de espadas e se aproximando da porta. Essa era enfim a grande audiência, citada por Miguel.
Sem dúvida era uma Rainha, ou melhor, A Rainha. Sua aparência era jovem, olhar meigo e sorriso doce. Cabelos compridos até a cintura, de um castanho escuro envolvente e misterioso, eram disciplinados e formava cachos em sua ponta, por cima um véu de um branco transparente com detalhes em dourado e rendas nas pontas; estava preso com uma espécie de coroa delicada e esplendorosa. Vestia uma roupa longa e discreta, cor de púrpura, que a deixava ainda mais bela. Sobre as costas um manto dupla face; por dentro de cor turquesa meio metalizado com desenhos pratas, por fora de uma azul profundo como o azul Prússia e de aparência aveludada; o manto estava preso em seus ombros com uma espécie de broche que formava uma estrela de seis pontas, ou estrela de Davi.
A linda Rainha caminhava descalça sobre o tapete azul e por onde ela passava um caminho de lírios rosa e branco eram formados, destilando no ar seu doce perfume. A Rainha se aproximou da porta, todos se ajoelharam. Leãozinho imitou-os meio desajeitado. A Rainha disse então a ele:
- Levante-se meu filho. Levantem-se vocês também meus guardiões.
Levantaram todos com reverencia. Leãozinho com reverencia e encantamento disse:
- Senhora! Nunca imaginei que um dia teria meus olhos o privilégio de contemplar tamanha beleza, sinto como que pudesse agora o mundo se acabar, não vale mais a pena viver em busca de belezas vãs, em nada encontrarei algo tão belo e perfeito. Toma-me como servo e meu pagamento será servir a mais bela das criaturas e podê-la contemplar.
- Obrigada meu pequeno. Mas informo que existe sim, algo muito maior do qual valha a pena viver. Algo que não é criado, mas criador. Tão perfeito e surpreendente que não poderia ter outro nome se não AMOR. Ele se encontra por trás das portas deste castelo e também dentro de outro castelo... Mais secreto que todos os segredos, mais profundo que os oceanos, mais largo que a terra, maior que todos os universos... Um lugar habitado apenas por Ele. E que somente a Ele pertence. O lugar que Ele escolheu viver para te amar!
- Diga-me então Soberana Rainha! Se já cheguei até aqui – disse Leãozinho - não desejo outra coisa se não encontrá-lo. Posso abrir a porta e ver quem é este ser? É por ventura o seu Rei?
- Sim! É o meu Rei, - disse a rainha -. E seu também! Não poderá ainda adentrar estas paredes. Ainda não é hora de vê-lo em seu trono glorioso. Mas precisará aprender a vê-lo e encontrá-lo no lugar mais perto de você que Ele possa estar. Encontrando-o neste lugar, é só questão de tempo, só questão de cumprir sua missão com bravura que com certeza Face a Face O encontrará.
E a Rainha Continuou:
- Gabriel abra as páginas do Livro. Miguel passe-me sua espada de Luz. Rafael tire da bolsa o sinal.
Todos obedeceram a Rainha. Ela pediu que Leãozinho ajoelhasse. Pegou a espada de Miguel e cruzou sobre o peito peludo do pequeno leão dizendo:
- Fostes até hoje escudeiro singelo de Tempus Temporis, levava sua vida de forma simples a esperar o nascer e o pôr-do-sol. Eis que hoje te declaro Ser Leone, o cavaleiro da chama de Amor. Envio-te como luz para que arrebanhe em sua volta luzeiros que ilumine todo o mundo, pastoreie as ovelhas de volta ao aprisco, resgatem as seqüestradas que estão no cativeiro do vale do esquecimento e digam a todos os seres criados que não tardará o dia da Grande Luz voltar. Será um dia de alegria para os justos e tristeza aos ímpios e ingratos, e neste dia o sol não vai mais se por e para contemplar as estrelas só será preciso fechar os olhos e acreditar.
Gabriel como um livreiro de missa, abriu o grande livro e estendeu-o com as duas mãos, inclinou a cabeça e esperou a Rainha fazer sua inscrição. Com a caneta presa em uma fita que dividia as páginas do livro, escreveu: - Hoje está escrito na eternidade a consagração de Ser Leone, o feroz cavaleiro da Chama do Amor.
A Rainha ainda estendeu a mão a Rafael que entregou a ela um cordão com uma cruz em forma de tau. Do lado direito da cruz, se abria uma fenda, que a tornava única, singular. Embalsamada com os óleos Sacramentais, exalava um perfume que transmitia coragem e animo a quem estive perto. Colocou o cordão no pescoço de Ser Leone, estendeu-lhe a mão e acolheu em seus braços com um terno abraço de Mãe. Até parece que ela não via à hora de acabar toda a solenidade, só para deixar de ser um pouco Rainha e ser ainda mais Mãe.
Entre abraços e lágrimas se despediram. Miguel ainda o acompanhou e antes que fizesse a passagem do portal perguntou:
- Amigo Miguel, você como guarda de toda a humanidade, me responda. Quem é estrela que fica escondida atrás de Psique e que hoje está apagada, deixando nossa amiga Alma da Humanidade a perecer.
Miguel Respondeu:
- Essa é a estrela Esperança. Ser Leone, a alma humana perdeu a Esperança porque perdeu a Fé. Porque se encontra cativa no vale do esquecimento. Você viveu tudo isso para compreender a angustia da alma humana e poder de alguma forma fazer novamente brilhar a estrela Esperança. Só assim a Psique poderá continuar sua missão de farol para os navegantes, de luzeiro para os perdidos. Só assim a alma humana poderá dar sentido à sua existência.
Ser Leone com lágrimas nos olhos, sorriu, e disse a Miguel:
- Fiel Amigo, até um breve dia.
Fechou os olhos e acordou.
Como havia dormido à tarde, quando acordou a noite já havia caído.
Contemplando as estrelas, fitou Psique que ainda fraca e deslocada soltava fleches de luz.
Pôs-se em prece a cantar. Deixou a canção sair do seu coração suavemente, livremente sem com nada se preocupar. De repente uma voz conhecida também começou a cantar. Uma melodia era ressoada em forma de diálogo entre a doce voz de Carisma e a rouca de Leãozinho.
É inexplicável descrever essa canção foi um momento único vivido pelos dois, mas de forma muito mais mística do que realista a mensagem que Carisma e Ser leone passavam pela música era em nossas formas humanas mais ou menos como essa poesia, emprestada por uma poetisa de outro tempo, de outra terra, onde ela trabalha como “reparadora de brechas”:

Não é fácil viver os planos de Deus.
Não é fácil viver o que tens para mim.
Mas com fé, esperança em ti eu saberei persistir no que devo seguir.
Só em ti eu posso ser feliz
Só em ti eu tenho razão para viver
Quando eu precisar ouvir, só a ti eu posso escutar.
Quero saber lhe seguir
Sem ao menos para traz olhar
Se preciso for renunciar, para poder caminhar.
Se olhares para o mundo que vive, verás que nada tens para ti.
Só em mim encontrarás alegria, por isso peço deixa-me te guiar.
Só em ti eu posso ser feliz
Só em ti tenho razão para viver.
Quando precisar ouvir, só a ti eu posso escutar.1
 


E essa historia continua na luta de cada cavaleiro, de cada criatura que como Ser Leone deseja o resgate da humanidade. De cada filho da Esperança que faz sua mãe voltar a brilhar.
Até o último dia lutarão para salvar a alma da humanidade, até o fim; ainda que sofra e definhe pelo esquecimento, a ESPERANÇA não morrerá!
E o vale do esquecimento ainda é o maior dos vilões, o maior cativeiro de almas que não encontrando mais sentido na vida, esquecem-se do Amor e mergulham na ingratidão do não amar.