sexta-feira, 18 de maio de 2012

Aquilo que os olhos não viram e nem os ouvidos ouviram....

Queridos amigos.

Quem me conhece sabe o quanto sou atraída ao conhecimento dos sentidos humanos. E o quanto os associo à arte e também às experiências de oração.

Lembro-me de em outra ocasião ter dito que os considero com interfaces entre o corpo e a alma.

Esta semana estava lendo um livro em que o autor narra sua pequena experiência com o sentido da visão. Gostaria de partilhar com vocês, é um trecho do livro de Manuel Eduardo Iglesias, S.J. – Um retiro com o Pai Nosso; pagina 22.

“ Gosto de contar o que aprendi com dois amigos cegos.

Um deles me contou que agradecia a Deus pela cegueira, pois, graças a isso, enxergava coisas que outros não enxergavam. Na hora não pergunte nada e fiquei pensativo. Anos mais tarde outro cego me esclareceu o ponto:

- Nós, cegos, enxergamos as pessoas e a vida “de dentro para fora” e vocês enxergam “de foram para dentro”.

Pedi para me explicar melhor e não me esqueci da resposta:

- Quando eu converso com alguém, sou todo ouvidos para essa pessoa. Procuro sentir como ela é e como ela se sente. Capto se ela é triste ou alegre, animada ou desanimada, feliz ou frustrada... E até sinto as vezes que essa pessoa está doente e nem ela mesma percebe. E só ao finalzinho é que eu me pergunto como será essa pessoa por fora. Se ela é alta ou baixa, bonita ou feia, rica ou pobre... Isso para nós quase que não tem importância. Porém, pra vocês, às vezes, justamente a aparência é o mais importante. Se vocês não vão com a cara da pessoa, não dão bola e ficam por fora mesmo... Perdem o que há de mais rico na pessoa, que é o seu “por dentro”!

Fiquei admirado e muito me ajudou essa visão para me relacionar com as pessoas e também para a vida de oração. O nosso Deus, três pessoas divinas, quer ser conhecido assim... “de dentro para fora...”

É o que poderíamos chamar de olhar de cego, que enxerga mais longe e mais profundo. Algo parecido poderia dizer em relação aos outros sentidos: ouvir por fora ou por dentro, saborear, tocar, respirar... Já os autores espirituais, de longa data, comparam ao modo como nos situamos no mundo sensível a partir dos sentidos físicos. “

Identifiquei-me, de certa forma, com essa explicação do cego, pois sinto que se todos nós humanos, nos dedicássemos a curar e ordenar nossos sentidos teríamos uma visão muito mais rica e profunda sobre a vida, os relacionamentos e o respeito pelas pessoas.

Hoje temos o perigo de industrializar nossos amigos e até mesmo Deus, transformando-os em uma figura da qual atenda o meu prazer e minhas exigência pessoais, porque na verdade eu enxergo apenas aquilo que quero ver, escuto apenas aquilo que quero escutar e sinto somente o que me apraz. Deixamos a verdade escapar por entre linhas de palavras incompletas ou por entendimentos precipitados, movidos por sentidos desordenados. Daí surge os julgamentos, as contendas e as separações.

Com os sentidos desordenados também não percebemos a vida que acontece todos os dias, que se renova a cada manhã. A presença Real de Deus agindo em nós.
Aquilo que um dia tanto almejamos, como por exemplo, acontecem em muitos casamentos do mundo, se tornam rotina, perdem o encanto... Porque os olhos já não contemplam mais com atenção o cônjuge, porque não há tempo para ouvir e escutar o outro, o tato não causa mais emoção porque se torna como algo comum e não singular como nos primeiros encontros.

Assim são as amizades, assim nos damos com os alimentos sempre buscando por gostos pessoais e muitas vezes deixando de fora o saudável, assim se dão tantas vezes com o nosso relacionamento com Deus, já não O busco tal qual como Ele é, mas como gostaria que Ele fosse.

Posso estar errada em minhas filosofias, mas agindo assim só nos afastamos de Deus, dos outros e infelizmente de nós mesmos.

Que o Espírito Santo nos ajude a encontrar a cura de nossos sentidos humanos, e quem sabe ajudar na cura dos sentidos da sociedade.

Venite Creator Spiritus!


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